terça-feira, 14 de julho de 2015

Frangos na Chapada - Parte 1 - Escaladas em Igatu

Igatu é conhecida como cidade de pedra. Atualmente é um vilarejo de pouco mais de 400 habitantes mas que no passado chegou a abrigar mais de 5 mil garimpeiros, todos atrás dos valiosos diamantes da região. A cidade é cercada de formações de quartzito das mais variadas, e é o local com maior potencial para escalada da Chapada Diamantina (na minha humilde opinião).



Então foi pra lá que decidimos ir para iniciar a nossa viagem. O plano era escalar em 3 ou 4 setores próximos à cidade e depois seguir viagem. Resultado: ficamos 9 dias ao todo! hehe... O vilarejo é uma delícia e, para quem quer fugir da badalação e da bagunça turística, é o lugar ideal. Suas ruas de pedra e ambiente acolhedor nos conquistaram.




Chegamos então no domingo, passamos no camping para deixar as coisas e fomos direto tomar um banho de cachoeira no Poço da Madalena, que fica a 5 minutos de caminhada da praça principal. Passamos uma agradável tarde nos poços, descansando e tirando um pouco da nhaca de 2 dias de viagem de carro. À noite, nada melhor que uma comida caseira. Fomos ao restaurante do Seu Chiquinho e da Dona Áurea comer uma típica carne de sol com palmito de palma.

Poço da Madalena


gatinho simpático no restaurante do seu chiquinho

Parênteses aqui para falar do Xique-Xique Abrigo de Montanha (http://abrigoxiquexique.blogspot.com). O hotel/pousada/camping é administrado pelo simpaticíssimo casal de escaladores Wanessa e Rafael que nos deixaram muito à vontade. Eles também são donos da agência Igatu Escalada e Trekking e fazem passeios para toda a região (http://www.igatuescalada.com).






Como o camping tinha cozinha, aproveitamos e usamos toda a habilidade da Flavinha na cozinha para economizar um pouco e evitar comer fora. Aliás, essa foi outra grande vantagem de Igatu. Comida barata! Os poucos dias que saímos comemos muito bem e por um preço sempre muito razoável (R$20 a R$30 por pessoa). Além disso, a Flavinha aprendeu novos truques e se dedicou à arte de fazer tapiocas. Comemos tapiocas praticamente todos os dias de manhã e de tarde, alternando entre doce e salgado.

Como o principal atrativo de Igatu é a escalada, ficamos nessa de intercalar a escalada com outros atrativos de menor esforço físico, sempre retornando e saboreando um excelente jantar caseiro no camping, ou uma pizza ou pf em um dos simpáticos restaurantes de moradores da vila.

O clima de Igatu é outra atração à parte. Como a vila fica encrustada no meio da chapada, em um vale, o clima é diferente do resto da região. Chove e faz sol várias vezes ao dia. Apesar de pegarmos chuva todos os dias que ficamos em Igatu, conseguimos aproveitar tudo que queríamos entre uma chuva e outra.

Setor Labirinto
O primeiro setor que escalamos foi o Labirinto. É o maior setor de Igatu, com mais de 60 vias, e também o mais próximo da vila. 5 minutos de caminhada e já chegamos nas vias. Com o guia nas mãos, fomos escolhendo as vias 3 estrelas de graus entre 4 e 5 e saímos fazendo um monte, uma atrás da outra. Como as bases são muito planas e as vias muito próximas, é possível fazer várias vias no mesmo dia. O Rafael aproveitou o dia de pouco movimento na agência e foi escalar com a gente, dando muitas dicas e indicando as melhores vias do local. Pura diversão!

Nesse dia acabamos escalando 7 vias entre 4 e 7a. Destaque para as primeiras vias de 4 e 5 (com a Flavinha sacando todas), um 6o grau lindo num diedro negativo e o 7a que foi a última via do dia, num negativo laranja muito bonito entre agarras e pinças que pareciam que iam quebrar a qualquer momento.

Esse é um importante diferencial do quartzito de Igatu. A rocha é muito dura! Os chifres e copinhos que se formam se assemelham muito aos do quartzito que temos aqui em MG, mas não quebram por nada! Rocha perfeita para escalar e se divertir!

Rafael em um 5o grau

6o grau de diedro

vários tetos separam os setores

Ainda fui presenteado pelo Rafael com uma "sessão" de fotos nessa última via.

via São Sebastião - 7a


Belíssimo primeiro dia de escalada! Chegamos de volta no camping com os braços moídos e com um gigante sorriso no rosto. Depois de um gostoso jantar, 8:30 da noite já estávamos roncando na barraca. Finalmente estávamos na Chapada Diamantina, aproveitando as férias nesse lugar maravilhoso!

por do sol e a chuva chegando de novo

Rio Paraguassu
Acordamos na terça-feira com pique e queríamos ir em um outro setor, chamado California, um pouco mais longe da cidade. O tempo estava meio feio e enquanto tomávamos café da manhã recebemos a notícia pela irmã da Flávia de que o nosso gato, o Filó, havia fugido da casa da mãe delas. Depois de muita preocupação, muitas mensagens, e com uma chuvinha fina que não passava por nada, decidimos abortar a escalada e ir para Lençóis para tentarmos pegar sinal de celular para então decidirmos o que faríamos a respeito. Rodamos os 80km entre Igatu e Lençóis sob chuva fina e conseguimos falar com a irmã da Flávia e entender melhor o que havia acontecido. Ficamos lá um tempo aguardando algum contato telefônico de alguém que poderia ter encontrado o Filó, mas nada.

Depois das 13:00 o sol começou a aparecer e decidimos voltar para Igatu. A irmã da Flávia espalhou fotos do Filó pelo bairro e agora só nos restava aguardar ele ser encontrado ou voltar.

No caminho de volta, resolvemos para no Rio Paraguassu, famoso ponto de psicobloc no maior rio da Bahia. Paramos o carro em uma loja de artesanato e subimos o rio à procura dos blocos. O rio é imenso! Um canyon muito imponente se ergue por dentro da serra e revela blocos de pedra gigantescos espalhados pelo leito, dos mais variados formatos. Visual lindíssimo!

vista da ponte na estrada





Tomamos um banho de rio e depois voltamos para chegar no principal ponto de psicobloc da região: um bloco de uns 8 metros de altura que se ergue levemente negativo a partir da água, e cheio de agarras. O único problema é que era do outro lado do rio, há uns 30 metros de distância da borda aonde estávamos. Então lá fui eu brincar de psicobloc.

Escalei por umas 3 linhas diferentes, em sequência, sempre pulando lá de cima. A rocha muito dura e cheia de agarras garantiu a diversão.





Setor California
Na quarta-feira, depois de uma terça conturbada com a história do Filó, recuperamos o ânimo e resolvemos pegar a trilha de 45 minutos até o setor Califórnia. Esse foi o primeiro setor de escalada de Igatu, e certamente é o mais bonito. As paredes escaláveis ficam no canyon natural do rio. Com isso, é possível escalar com a cachoeira ao lado.

Fomos seguidos de perto pela cachorrinha Juju (muito famosa no vilarejo por seguir os visitantes nos passeios) durante toda a caminhada. O acesso ao setor não é muito óbvio e ficamos algumas boas 2 horas entre desce e sobe, procura daqui e procura de lá, até que a Flávia achou uma passagem por entre as pedras caídas no leito do Rio e conseguimos finalmente acesso à area de escalada.

ruínas do antigo bairro California em Igatu



o tal conglomerado

procurando o caminho pelos canyons


a simpática juju se refrescando na caminhada

Aquecemos os dedos em uma via de 5o grau que segue por um bloco gigante inclinado, e depois fomos para o Paredão Vermelho. Essa é a parede mais bonita de todo o setor e conta com poucas vias, a maioria acima do 8o grau. Achei um 7a lindo e longo no croqui e lá fui eu encarar o danado à vista.

Apanhei bastante da leitura da via e da pedra bem polida e um pouco escorregadia. Mas valeu o esforço. Linda via com movimentos muito bonitos e agarras anatomicamente moldadas pela erosão.

linha da via





Escalada Verruga
Quinta-feira tiramos o dia de descanso e fomos fazer o passeio dos Poços Azul e Encantado. Mais detalhes aqui, porque eles merecem um post separado (hehe).

Na quinta, visitamos o último setor de escalada em Igatu: o Verruga. Esse setor fica ao lado do Labirinto, há 15 minutos de caminhada do camping. Acordamos cedo, tomamos o já tradicional café da manhã com tapioca, e partimos.

Depois de nos perdermos um pouco no labirinto de blocos de pedra, enfim achamos as vias que estávamos procurando: um 5o e um 5sup bem altos em um corredor muito bonito. A chuva do dia anterior deixou alguns blocos bem molhados e escorrendo, mas a maioria das vias estava escalável.

Fizemos a primeira via, um 5o grau muito bonito, longo e bem exposto no final, e a chuva voltou. Jpá cansados de tanto tomar chuva durante a semana ficamos ali esperando o tempo melhorar. Uns 30 minutos depois o sol reapareceu e conseguimos aproveitar bem o restante do dia.

Nesse setor acabamos escalando também 7 vias em um só dia com destaque para as vias Musa Paradisíaca (5sup mais bonito de toda a viagem), Predileta (6sup/7a) e a famosíssima Manga do Céu, um 7b muito negativo de agarra gigantes. Final do dia, braços novamente moídos e cabeça limpa.

preparando para entrar na via Manga do Céu - 7b



Completamos aqui a primeira parte da nossa viagem! Foram 6 dias de muita escalada e muitos passeios.

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