terça-feira, 25 de setembro de 2012

Escalada em Mar de Espanha

Fim de semana, eu estava precisando ir visitar a minha mãe na cidade dela. A Flavinha acertou pra trabalhar no domingo à tarde, e com isso poderíamos viajar na sexta a noite e voltar no domingo pela manhã. Aproveitando que teríamos o sábado inteiro, decidimos ir conhecer os famosos blocos de Mar de Espanha. Sexta saímos eu, a Flavinha e a Mimosa, depois do meu trabalho, e tocamos pra Bicas.

Mar de Espanha é uma cidadezinha conhecida por sua bela praça principal, recheada de coqueiros em torno da igreja da cidade. Fica muito próxima da divisa com o estado do RJ, e a apenas 20km da casa da minha mãe. A região é bem montanhosa, mas o principal local de escalada é o vilarejo Córrego d'areia, que fica há 8km do centro da cidade. O vilarejo é composto por uma igreja e algumas casas no seu entorno, várias paredes de granito e uma infinidade de blocos de granito espalhados.

blocos espalhados ao longo da estrada
paredes de rocha ainda sem nome

Decidimos ir conhecer o mais famoso, chamado pelo pessoal local de "Cartão de visita". É um bloco de aproximadamente 8 metros de altura, cortado em toda sua altura por duas fendas paralelas perfeitas. Chance para colocar os amigos pra arranhar um pouco.


Decidimos então entrar primeiro na fenda da esqueda. Entrei guiando e colocando alguns nuts e camalots, e eis que no finalzinho fiquei empacado apanhando das colocações de pé. Cheguei até a bater a mão na virada do bloco, mas o pé que estava travado na fenda começou a escorregar e preferi encarar a vaca. Tomei uma vaca de quase 5 metros num nut muito bem entalado na fenda, que puxou a Flavinha pra cima e me faz parar há pouco mais de 2m do chão. Primeira vaca num nut!!! O coração quase saiu da boca, mas estava bem confiante na colocação do nut, e fiquei bem satisfeito que ele tenha aguentado a queda. Passado o susto, fiz o lance de novo, e dessa vez me atentei melhor aos pés e deu tudo certo.

A Flavinha então decidiu entrar de top, mas a lesão no dedo reclamou e foi a única via que ela escalou. eu ainda quis entrar na fenda do meio guiando. Agora com mais atenção aos pés e mais tranquilo nas colocações, fiz até o final sem problemas.

Ainda encordado, olhei para uma fenda mais alta na direita que me parecia ser acessível por uma série de regletes próximos a aresta do bloco, e decidi entrar de top pra ver se dava um caldo. Acabou que a linha que eu segui era muito boa alternando bons regletes com agarradas em oposição, e de novo cheguei ao topo do bloco.

Com a mão doendo de tanto pinçar as agarras e os pés doloridos de tanto entalá-los nas fendas, arrumamos as coisas e fomos ver de perto as outras montanhas do local. Há três paredes principais muito próximas ao vilarejo, mas uma se destava mais pela negatividade e forma peculiar. Chamam de "Cabeça da Vovó" e parece ter fendas e agarras incríveis!!! Lugar para se voltar e explorar.



No pé desta montanha fica o Severino´s Bar, uma pousada/bar de um casal de aposentados cariocas, muito simpáticos que nos contou várias histórias sobre o lugar. Tomamos uma coca-cola gelada, pegamos o cartão de visita deles para voltarmos num outro fim de semana, e voltamos para Bicas com o corpo cansado e a mente limpa.

Infinidade de blocos, montanhas lindas, fendas perfeitas, Córrego D'areia é um paraíso pouquíssimo explorado pelos escaladores. Voltaremos em breve...

domingo, 23 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Rafa contando mais sobre o Baiano...

Depois de um post com poucas palavras sobre a escalada no Baiano, resolvi fazer uma entrevista com o Rafa para saber mais detalhes desta façanha...

Pati: Como foi o bivaque?! Mto desconfortável?!
Rafa: O bivaque é exatamente na base da via... parece que o pessoal deu uma limpada boa no mato, e tem um espaço bem razoável que deve caber umas 4 pessoas deitadas no chão... eu resolvi dormir em uma rede, pq achei que dormir direto no chão não ia ser muito legal... pegamos duas noites bem tranquilas com pouco vento... daí o saco de dormir aguentou bem o frio... acordei muito durante as duas noites, em média de 2 em 2 horas... mas quando acordava a vista do céu estrelado era sensacional!!! hehe...

P: E as enfiadas?! A via é longa e cansativa...
 
R: A via começa com 2 enfiadas beeeem expostas, mas fáceis... a primeira é um 3o grau constante com um lance de 6 que é bem protegido... a enfiada tem 55m e 3 proteções... a segunda enfiada é no mesmo molde da primeira... são 55m e 2 proteções... também um 3o grau constante com um crux de 5sup bem protegido... o guilherme guiou a primeira e eu guiei a segunda... as enfiadas mais difíceis são da 3a até a 8a, mas eu achei elas bem mais protegidas... a regra lá é, se é 3o grau no positivo não tem proteção... começou a ficar vertical, 4o grau, já é mais protegido... lances difíceis (5o, 6o, 6sup) são bem protegidos... daí guiamos 3 enfiadas cada um... o guilherme guiou a 3a, 4a e 5a, e eu guiei a 6a, 7a, 8a... adotamos a estratégia de levar só uma mochila com tudo dentro... assim quem guiava ia sem mochila e o peso todo ficou com quem tava subindo de segundo... pra ser muito sincero não gostei da idéia não... o segundo acabou sofrendo mais que o guia... hehe... a mochila ficou muito grande e era impossível manter o equilíbrio com ela balançando nas costas...

P: Me conta do crux!!!
 
R: O crux fica na 3a enfiada... um 7c que pode ser feito em A0 em duas chapeletas e colocando um cliff entre elas... além disso a saída da segunda chapeleta é bem difícil... lancezinho bem vertical com agarras minúsculas... pisamos na chapeleta e passamos o lance... a 4a e a 5a enfiadas alternam entre lances mais expostos de 3o, e lances mais verticais e menos expostos de 4o grau... quando digo mais expostos, leia-se uma proteção a cada 10m, quando digo menos expostos leia-se uma proteção a cada 5 ou 6m... na P5 tem um platô muito bom que paramos pra beber água e comer...

P: E só tem um crux?!
 
R: O segundo crux fica na 6a enfiada, q eu entrei guiando... um lance de 6sup também bem protegido, bem vertical e com poucas e pequenas agarras abaoladas... acredita no pé, equilibra, vai subindo o pé na mão, colocando a mão no nada e toca pra cima... hehe... na 7a enfiada tem um lance de 5sup num diedro em oposição bem legal, mas menos protegido e ruim de parar pra proteger... passei direto da chapeleta pra não parar (a última chapeleta já estava a uns bons 7 metros pra baixo) e costurei a chapeleta na altura do pé... hehe... a 8a enfiada é parecida com a 4a e a 5a, 3o grau constante com lances de 4o e 5o mais protegidos...

P: E as últimas enfiadas?! Quase sem proteção, é verdade?!
 
R: A P8 é um platô gigantesco que dá até pra desencordar e dormir... paramos lá um pouco pra descansar, beber água e comer... a 9a enfiada o guilherme guiou, e é uma parede bem vertical constante de 5sup, com bastante agarra e bem protegida... incrível achar um pedaço de rocha com essas características há 500 metros do chão... hehe... a 10a enfiada eu entrei guiando, e foi bem mais fácil e exposta... alterna trepa matos com 3 trechos de 10m de altura de rocha... em um dos trechos mais verticais estão as 2 únicas proteções dessa enfiada... mas eu achei bem tranquilo passar os lances sem proteção... as últimas 3 enfiadas não tem proteção intermediária, e são no mesmo esquema da 9a.. trepa-mato alternando com trechos de 10 a 15 metros de rocha... mas agora bem mais positivo, com mais agarras (tipo última enfiada da Sabotadores em Pedralva)... muito tranquilo... só tomamos bastante cuidado pra não errar a linha e não conseguir achar as proteções da parada... daí fomos alternando também... cada um guiava uma...

P: Me conta um pouco sobre o que vc sentiu antes, durante e depois...
 
R: Hummm.. essa é difícil... pra te ser muito sincero, acho que eu nunca tive tanta vonta de escalar uma parede como dessa vez... durante a caminhada até a base, não conseguia conter a ansiedade, e tava sentindo uma vontade alucinante de começar a escalar logo... dia seguinte, quando acordamos, a ansiedade virou medo... como o Guilherme já tinha entrado na Obra do Acaso no ano passado, passei pra ele o papel de guiar a primeira cordada, pra eu me ambientalizar um pouco com a rocha e tudo mais, e me diminuir um pouco a minha ansiedade também... quando entrei guiando a segunda enfiada, de cara tem um esticão de uns 10 - 12 metros, fator 2, mas bem positivo, com bons abaulados pro pé... fiz praticamente todos os movimentos tremendo o corpo inteiro... hehe... depois que o guilherme guiou a 3a, 4a, e 5a, eu subi de segundo e fiquei bem mais calmo e confiante na aderência da rocha... daí pra cima foi só felicidade... eu tava muito confiante nos movimentos e nas colocações dos pés... inclusive acabei mudando o traçado da via algumas vezes, pulando chapeletas, e aumentando a exposição pra passar por trechos de rocha que eu julguei na hora mais fáceis que o traçado da via... e foi incrível! os lances mais difíceis (6sup e 5sup no diedro) eu adrenei pra valer!!! tremi inteiro pra fazer os lances, mas não vaquei... passei um medinho bom... e a partir da 6a enfiada, eu só queria chegar ao cume... chegava na parada, pegava as coisas e tocava pra cima quase correndo... das últimas enfiadas sem proteção eu guiei uma delas... e o nível de concentração e confiança tava tão alto, que me senti super bem... tinham alguns lances bem verticais mas com boas agarras... daí fui usando bem os pés e quando assustava, já tinha passado o lance...

P: Você disse que rapelaram com duas cordas... Vcs levaram duas cordas já com a intençao de usar no rapel?! A mochila fica bem pesada...
 
R: A via tem todas as paradas duplas em chapeletas com argolas... e todas as enfiadas tem aproximadamente 50 metros... então já levamos uma corda dentro da mochila para rapelarmos com duas cordas... como falei a unica decisão na minha opinião errada foi levar somente uma mochila com tudo dentro... ficou muito grande e muito pesada... pra rapelar decidimos rapelar em A usando dois gri-gris (cada um com um) pra ganhar tempo e facilitar o procedimento... e, sinceramente, foi uma mão na roda, e foi muito tranquilo porque ele pesa quase o mesmo que eu... além disso a positividade da rocha ajudou bastante também... agilizou demais...

P: E essa foi a sua primeira parede mais comprometedora, não é?! Como foi tomar essa decisão?!
 
R: Paty, vou te falar que o processo mental de decisão de ir pro Baiano foi complexo viu... hehe... em julho o Guilherme falou q queria tentar de novo a Obra do Acaso esse ano, e de cara eu falei que não... que achava que era muito pra mim, que não tava na hora... daí passou uns dois dias, e aquilo ficou martelando na minha cabeça... e pensei em tudo que eu já tinha passado, e se realmente era hora de me comprometer com uma parada tãããão maior que tudo que eu já tinha feito até então, por todos os aspectos envolvidos: bivaque, tamanho da parede, caminhada de aproximação, etc... como eu já tinha planejado as férias de escalada com a Flavinha, e o curso de escalada móvel já tava engatilhado, resolvi tomar uma decisão... combinei com o Guilherme de escalarmos depois que eu voltasse de férias, e fiquei pensando comigo que usaria as férias como um teste pra ver se eu me sentiria realmente apto a comprometer com a escalada do baiano... depois do curso de móvel e as escaladas em Andradas eu me senti muito bem com a exposição, dificuldade, etc... mas o grande desafio pra mim seria a Evolução... 10 enfiadas, alguns lances expostos, crux de 6sup, e tudo mais... quando eu comecei a guiar a Evolução na 2a enfiada, passei o crux e cheguei no final da 6a enfiada ainda inteiro e com vontade de escalar mais, vi que realmente estaria apto pra fazer o Baiano... ali, enquanto eu estava rapelando da Evolução, eu tinha tomado a decisão de que era realmente o momento de me comprometer com o Baiano... tanto que até comentei com a Flavinha que o teste da Evolução serviu muito bem pra avaliar as minhas condições psicológicas e também físicas...

P: E a escalada rolou bem e vcs chegaram no cume!!! O que mais vc sentiu?!
 
R: Quando eu cheguei no cume, o sentimento de satisfação e de recompensa foram incríveis!!! no final das contas eu achei que o Baiano foi o limite da minha capacidade física e psicológica... pelo grau de dificuldade, grau de exposição, extensão da parede, bivaque a céu aberto, desconforto com o suor e sujeira de 3 dias, e pelas condições da trilha de aproximação (íngreme e fechada)... foi bem parecido com o que eu senti quando fizemos a Bira... acho que dei um passo pra frente na minha zona de conforto, e que abriu possibilidades para novas empreitadas no futuro... hehe...
 
P: E a sensação de chegar no cume e perceber que vcs esqueceram a caneta para assinar o livro?!

R: Hahahahaha... *&#@%$*&#@%$... Vou ter que fazer cume de novo!!!


P: Nossa, que máximo, Rafa!!! Parabéns de novo!!! Fiquei o fds todo pensando em vc, imaginando como estava a escalada no Baiano, e que um dia quem sabe a gente não escala lá em duas duplas, né?!

 
R: Sim, pensei muito em você e no Jorge durante os 3 dias que passei lá... inclusive até tentei te mandar uma mensagem pelo whatsapp quando cheguei na base da via na sexta-feira... hehe... valeu pelo apoio!!!

P: Fantástico, Rafa! Parabéns para vc e para o Guilherme!!! Qual será a próxima grande aventura?! Salinas?! Dedo de Deus?! Riscada?! Hehehehe..
 

domingo, 16 de setembro de 2012

Frango Baiano

Na volta da caminhada no Pico do Papagaio, em julho, o Guilherme tinha comentado que queria voltar ao Pico do Baiano esse ano. Ele havia ido ano passado escalar a via Obra do Acaso, mas demoraram muito na via, e tiveram que desistir na 8a parada.

Na hora disse que não, que achava que o Baiano ainda era muito pesado pra mim, e não estava disposto a encarar o perrengue. Mas uns dias depois pensei bem e resolvi que era hora de encarar o bicho de frente, e depois do teste na via Evolução em Pedralva, me senti em plenas condições de escalar os 650 metros de parede.

O Pico do Baiano fica na borda da Serra do Caraça, no município de Catas Altas, e é considerado por muitos como o principal pólo de escalada tradicional da região próxima à Belo Horizonte. Existem várias vias já conquistadas, todas com muitos metros de extensão e poucas proteções. Aliado a isso, o acesso pirambístico (vulgo cheio de pirambas) à sua base lhe confere o rótulo de baita escalada de aventura. Mais informações em: http://www.montanha.bio.br/web_cem/apresenta_baiano.htm

começando a trilha
Fomos fazer então a via Obra do Acaso que é a única via totalmente protegida com proteções fixas, e possui todas as paradas duplas. Essa é a via mais frequentada do local, tanto pela exposição quanto pelo grau moderado (5 com crux de 6sup) e, como o Guilherme já havia feito parte dela no ano passado, acreditamos que isso nos ganharia algum tempo durante a escalada.

Decidimos então aproveitar o feriado e fazer um esquema com mais tempo, assim poderíamos descansar melhor entre as caminhadas e a escalada. Saimos de BH na sexta de manhã e chegamos no vilarejo do Morro de Água Quente às 12:30 e, por volta das 13:00, começamos a caminhada. Passamos rapidinho pela estrada de trem da Vale, e rapidamente ganhamos altura pela mata. Foram quase 4 horas e meia de caminhada, sendo que as últimas 2 horas e meia de muita piramba, e muito arranca mato com a mochila, olho, pescoço, etc. Chegamos na base por volta das 17:30, armamos o bivaque, fizemos um jantar e por volta das 19:30 já estávamos nos braços de morfeu.

favela na base


Dia seguinte acordamos com o sol nascendo, e pouco depois das 7:00 já estávamos na parede. Dia lindo, vento de leve e algumas nuvens aliviando o calor, clima perfeito pra escalada!

sol nascendo em meio às nuvens

A via segue em uma linha bem reta, sempre por pequenas agarras e cristais em um quartzito cinza prateado lindo, com boa aderência, intercalando longos trechos expostos de 3o/4o grau com alguns lances mais difíceis bem protegidos de 5o, 6o e o crux de 7c/A0. Na minha opinião, um E2 justo. Ao todo são 13 enfiadas de aproximadamente 50 metros (algumas um pouco maiores e outras um pouco mais curtas), sendo as 3 últimas sem proteções intermediárias entre as paradas.

Fomos revezando as guiadas, e a medida que o chão ia ficando mais longe a confiança na aderência da rocha aumentava, e fomos progredindo num ritmo muito bom, com poucas paradas para descanso.

guilherme guiando a primeira enfiada da obra do acaso

e o chão vai ficando longe
platô na P8
Cume atingido por volta das 15:30!!! Visual incrível!!! Infelizmente esquecemos a bendita da caneta na base e não pudemos assinar o livro de cume.

cume do baiano!

visual da parte de trás do baiano
Como já estava ficando tarde, e estávamos com duas cordas, decidimos fazer todos os rapéis em A (simultâneo) e logo depois das 18:00 chegamos novamente no chão. Ao todo foram pouco mais de 11 horas pendurados!

Mais um jantar liofilizado e de novo por volta das 19:30 já estávamos apagados no bivaque.

Dia seguinte, a catinga de suor misturado com protetor solar estava braba e acordamos antes de o sol nascer doidos pra voltar pra casa. Fizemos a caminhada de volta em 3 horas, e pegamos o carro no Abrigo do Caverna pra voltar pra BH.



Um detalhe muito importante sobre a montanha é o barulho incessante da mineração, 24 horas por dia. Os caminhões não param nenhum minuto, nem mesmo durante a madrugada, durante o feriado ou aos domingos.

Missão cumprida!!! Montanha incrível, rocha incrível, visual incrível!!! Todos os ingredientes de uma grande escalada, esse foi com certeza o maior desafio que já enfrentei na escalada em rocha. Valeu Guilherme pelo convite e pela parceria!!!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Férias no sul de minas

Por Rafael Gribel (chú)

Finalmente conseguimos combinar férias no trabalho, e eu e a Flavinha decidimos ir fazer o sul de minas. A intenção era ir atrás dos paredões de granito da serra da mantiqueira.

ANDRADAS

O primeiro destino foi Andradas. Saimos no domingo a tarde e chegamos no abrigo tarde da noite. A dica é ficar no Abrigo do Pantano (http://www.abrigopantano.com), muito aconchegante, barato e perto das principais pedras.




No próprio site do abrigo há croquis das 3 principais pedras da região: Pedra do Pantano, Pedra do Boi, e Pedra do Elefante. Existe ainda o Guia de Escalada de Andradas que pode ser comprado no próprio abrigo e tem um pouco mais de detalhes sobre as pedras (acesso, vias, croquis, etc), altamente recomendável. Ficamos dois dias em Andradas e decidimos fazer 2 vias, em pedras diferentes pra conhecer um pouco mais do lugar.

No primeiro dia fomos conhecer a pedra do Pantano. Escolhemos a via Nirvana, que fica na parte mais oeste da pedra. É uma escalada de 5 com crux de 5sup, mista, bem vertical. A rocha é muito aderente, e o pé bem chapado e as agarras pequenas, intercaladas com uma ou outra agarra muito boa, são características da via. Foram 4 enfiadas, e fizemos a via em pouco mais de 2 horas.


flavinha guiando a primeira enfiada



Dia seguinte, acordamos bem cedo e fomos para o objetivo do dia: conhecer a Pedra do Elefante. A trilha é um tanto bom mais longa que a do Pantano, e chegamos na base da via por volta das 11:00. A via escolhida foi a Era do Gelo, também mista, e com grau bem parecido com a do dia anterior. Foram 6 enfiadas, com agarras pequenas e rocha muito aderente.


vista frontal da "tromba"
a linha da via Era do Gelo é a esquerda
da grande fenda em diagonal
vista do cume

Chegamos no cume por volta das 14:00, e resolvemos descer caminhando. Depois de algumas 3 horas procurando a trilha por entre pastos, cafezais e matas, finalmente achamos e chegamos no carro de volta exatamente anters de escurecer.

MONTE VERDE

Para descansar os dedos todo ralados e os calcanhares em frangalhos, a segunda parte das férias foi em Monte Verde. A idéia era subir até o Pico do Selado, acampar no cume e descer no dia seguinte. Saimos cedo de Andradas e chegamos em Monte Verde antes da hora do almoço. A cidade é linda, com uma arquitetura bem européia e muitos restaurantes e chocolaterias. Parece uma Campos do Jordão mais pacata., com aquele clima de montanha bem característico. Fizemos uma hora na cidade, procuramos alguma coisa pra forrar o estomago, e subimos para o Pico do Selado.


A trilha é bem tranquila, com uma subida pouco íngreme e contínua, e em pouco mais de uma hora e meia estávamos num platô próximo ao cume que nos pareceu muito interessante para passar a noite. Armamos a barraca, fizemos o jantar e ficamos algum tempo com os isolantes e sacos de dormir fora da barraca olhando o céu limpo e extremamente estrelado que apareceu nessa noite.



pedra redonda e pedra partida ao fundo
acampamento num plato antes do pico selado

Dia seguinte, acordamos cedo para ver o sol nascendo, e logo em seguida descemos de volta para a cidade.


mar de nuvens ao amanhecer

Para fechar com chave de ouro a nossa segunda parte das férias, paramos em um restaurante na cidade e comemos uma truta grelhada com legumes e arroz piemontes fantástico, regado a uma bela cerveja de trigo alemã.



PEDRALVA

Terceira e última etapa das férias, após o almoço tocamos para Pedralva, uma cidadezinha bem pequena próxima a Itajubá. Lá se encontra a magnífica Serra do Pedrão, um monolito de granito de mais de 300 metros de altura e acho que uns 600 metros de extensão, paraíso das escaladas tradicionais. Dicas, croquis, etc no site da triboo montanhismo (http://www.triboo.com.br/).

Ficamos num hotelzinho na entrada da cidade, e no dia seguinte acordamos às 5 da manhã e pegamos a estrada de terra até o sítio do seu Tião Simão, onde deixa-se o carro e pega-se a trilha para a base da montanha. Demos muita sorte e quando chegamos, o seu Tião nos disse que havia uma caminhonete Toyota Bandeirantes subindo a estrada do cafezal (que dá acesso a trilha), e poderíamos pegar carona. Subimos na estrada incrivelmente acidentada (só uma Toyota Bandeirantes realmente para subir), e rapidamente avistamos a pedra e pegamos a trilha que vai até a parte central da montanha, de onde começa-se a escalada da via escolhida. O objetivo foi a via Evolução, a primeira via conquistada nessa montanha, com mais de 300 m (11 enfiadas) de escalada livre, vertical, e relativamente bem protegida.

chegando na base do Pedrão
restos do jipe voador do pedrão
A Flavinha pediu para guiar a primeira enfiada, e começou a peleja por volta das 9:00. Com um veneno bom por causa da distância entre as proteções, e muitas lacas soltas, ela chegou na primeira base, e eu subi de segundo. A partir daí toquei por mais 4 enfiadas até um platô conhecido como Inferninho, de onde sai a enfiada mais difícil da via, um crux de 6sup numa virada em um diedrinho seguidos por quase 20m de um 6o grau extremamente delicado, com agarras minúsculas. Guiei e chamei a Flávia, e quando ela chegou os pés e as mãos estavam já bem doloridos, e o sol não dava tréguas. Resolvemos então parar por ali e iniciar a descida.

Fizemos alguns rapéis e antes das 14:00 estávamos na base comendo um sanduíche e arrumando os equipamentos nas mochilas. Mais uma horinha e estávamos de volta ao sítio do seu Tião Simão.

serra do pedrão em pedralva
Saldo das férias: 5 dias de muita escalada, caminhada, comida boa, boas dormidas, montanhas novas, montanhas conhecidas, tudo isso num dos lugares que mais gostamos de frequentar que é a Serra da Mantiqueira. Não poderia dar em outra coisa. Voltamos pra casa com as cabeças frescas e prontos para encarar o dia-a-dia, já pensando nas próximas férias.... hehe...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Férias galináceas 3a parte - Pedralva

Por Flavinha

Chegamos em Pedralva no aperto, descobrimos que não tinha banco itau na cidade. O chu tinha R$46,00 na carteira e a pousada era R$60,00 e não aceitava cartão. Não conseguimos sacar dinheiro, mas por sorte achei R$20,00 na minha carteira e conseguimos ficar na Pousada. Mas como não tinha nenhum restaurante que aceitasse cartão na cidade, compramos salsicha, pão e batata palha no supermercado (que graças a deus aceitava cartão) e fizemos um cachorro quente no fogareiro dentro do quarto do hotel.

No dia seguinte fomos para o Pedrão fazer a Evolução. Deu tudo certo no dia, inclusive, não tivemos que andar toda aquela subida de estrada. Quando chegamos na casa do seu Tião, conversamos um pouco e um amigo dele ia subir aquela estradinha de caminhonete e o seu Tião pediu pra ele dar uma caroninha pra gente.

começando a trilha depois da carona no
toyota bandeirantes

restos mortais do famoso jipe voador do pedrão

trilha para o pedrão

Ganhamos quase 1 hora com a carona e chegamos as 8h na base da via. 
Eu resolvi deixar de ser franga e fui guiar a primeira enfiada, passei um medinho terrível, mas consegui controlar o desespero da exposição e cheguei na 1ª parada tremendo igual vara verde e morrendo de dor no pé. O resto da via o chu guiou, mas não conseguimos terminar. Lá pela 7ª enfiada eu comecei a sentir muita dor no pé e pedi penico. Voltamos dali, despedimos do seu Tião e fomos para varginha.



Bom essas foram as nossas férias, depois o chu escreve melhor um relato no blog contando direitinho. 
Mas foi muito boa, voltamos muito felizes e descansados. Agora é planejar as próximas férias.... rsrsrs

domingo, 9 de setembro de 2012

Domingão na pedreira cheia de rapeleiros...

Recentemente caiu um bloco em um setor na Mountain Quarry, e antes que caia a parede toda (!), Jorge e Shane queriam entrar numa via nesse setor, a Urban Ethics...
Combinamos de ir no domingo, então no sábado cedo Jorge ligou no parque para "reservar lugar" na pedreira. O cara no telefone sugeriu para irmos escalar em outra pedreira, pois a Mountain Quarry esatava quase lotada! Mesmo sabendo que estaria quase lotada, chegamos lá 9h30!
Logo que passamos a entrada do parque, vejo uma plaquinha: ABSEILING. Tinha uma empresa de "turismo de aventura" com umas 30 crianças fazendo rapel! Eles alugaram uns 10 top ropes de vias para fazer os rapéis, mas não nos incomodaram mto pois a pedreira é bem grande... Mas o ruim é o barulho que eles faziam, crianças conversando, dando risada, gritando...


Para aquecer o esqueleto Shane sugeriu uma via que a gente não conhecia ainda, a Frustration and Contempt, de grau 16. Essa via fica em uma intrusão de granodiorito, e ele simplesmente só tem agarras abauladas! É uma frustração mesmo!
(OBS: ainda vou escrever sobre a relação da geologia (tipos de rocha) com a escalada (tipos de agarra), é fascinante!)
Lá se foi Jorge escalar à vista, mas sem precisar colocar os hangers, essa via era equipada com os rings, ufa! Jorge agradece! Hehehehehe...



 
Jorge estava lá sofrendo na via, com medinho, qdo Shane vira e fala que vai emprestar um livro: "Mental Training for Climbers"!!!!! Na hora caí na risada!!!!! Rafa, viemos morar do outro lado do mundo e temos um amigo que fala a mesma coisa que vc!!!!! Mental training!!!!! Hehehehe... Acho que vamos acabar lendo o livro mesmo...
Depois de nós três entrarmos na via, percebemos que tinha 3 escaladores na Urban Ethics, e com cara que iam demorar... Então fomos na Black Wall brincar mais um pouco... Aí me inspirei na Flavinha e resolvi deixar de ser franga e guiar!





 Depois Shane botou pilha no Jorge para ele guiar em móvel a Playboy, um diedro lindo de longe, de grau 17, uma das vias mais legais da pedreira! Eu disse lindo de longe, pq de perto ele é lisooo... Hahahahaha...



 
Shane não quis guiar essa via, estava se poupando para a Sylvia... Uma via de grau 21 e 25 metros... Ele mandou mto bem, sem queda!




Só de ver ele escalando a gente já começou a lembrar da música do Camisa de Vênus... Hahahaha... Shane deu seg para o Jorge escalar de top... Ô viazinha difícil essa... Agarras abauladas, sem nenhum descanço... Jorge desceu da via chingando a Sylvia!




Essa via na verdade usa o top da via à esquerda, a Mortal Wombat, porque o top dela estava num bloco que... Caiu! Não sei qdo, acho que já faz tempo... Olha aí o bloco com o top:


Com o calor e a fome aumentando, eles resolveram deixar a Urban Ethics para outro dia, e combinaram de chegar mais cedo para pegar menos sol na via... Na volta passamos na Dominos e compramos 2 pizzas para comer no jardim de casa: uma pizza para mim e Jorge e a outra inteira para o Shane! Eu tinha feito uma torta de limão na sexta, e mandei um pedaço para a Raphaelle... De noite eles mandaram um torpedo: "That lemon pie... Heaven!"... Hehehehe... Teve bão!

by Pati