sexta-feira, 6 de março de 2015

Carnaval de fendas na Serra do Lenheiro

Carnaval chegando e nós caçando um lugar para fugir da bagunça. Pensamos bastante e lembrei então de um lugar que sempre tive muita vontade de conhecer, mas ainda não tinha surgido a oportunidade de ir: Serra do Lenheiro! Infinidade de fendas em um quartzito multicolor perfeito para a escalada. Pesquisei um pouco e vi que normalmente carnaval não fica tão cheio e, além do mais, por ser área militar, muitas coisas são proibidas o que inibe os farofeiros de plantão.





A Serra do Lenheiro fica no município de São João Del Rei, e é muito conhecida pelas escaladas em móvel dos 3 Pontões. Considerado um dos melhores locais para prática da escalada em móvel no país, as fendas e qualidade da rocha são impressionantes! O local é área militar, utilizado pelo 11º batalhão de SJDR para cursos de montanhismo aos militares, e por isso recebe o nome de CEMONTA (Campo Escola de Montanha). Muito importante frisar que a FEMEMG tem um acordo com o Exército para manter a escalada aberta no local e é preciso seguir os procedimentos exigidos por eles para conseguir autorização. É só entrar no site www.acessomg.blogspot.com e clicar em 3 Pontões - São João Del Rei

Porém, pesquisando um pouco mais, descobrimos que existem vários outros setores na Serra do Lenheiro com quartzito da mais alta qualidade: Pedra Negra, Setor Ave Maria, etc. 4 dias seria pouco para conhecermos o lugar no final das contas. Fomos então eu, a Flávia e o Guilherme de BH, e a idéia seria escalar pelo menos uns dois dias nos 3 Pontões e tentar conhecer alguma coisa do Setor Ave Maria.

Saímos então no sábado de manhã e enfrentamos o já tradicional trânsito de carnaval. Demoramos umas 3 horas e meia de Alfenas até lá (1 hora a mais que o esperado), e fomos direto ao batalhão entregar o Termo de Reconhecimento de Risco e pegar a autorização. Lá encontramos o Guilherme, passamos em um supermercado para comprarmos a janta e partimos para o Cemonta. 2km de terra, de estrada razoável e chegamos ao local.

A imponência dos 3 Pontões impressiona! O visual é magnífico, e as fendas mesmo vistas de longe fazem os dedos coçarem.




Armamos as barracas, aguardamos até umas 3 da tarde para o calor dar uma sossegada, e fomos escalar. Como era a primeira vez, decidimos fazer algumas vias bem fáceis no Pontão Menor para nos aclimatarmos ao tipo de rocha e escalada. Fizemos duas vias muito boas e descemos já quase anoitecendo. A primeira uma fenda reta linda e fácil, a Esquina da Alegria, e a outra começando em uma chaminé apertada e estranha e seguindo em um diedro/chaminé tranquila, chamada Spartacus.



início da Esquina da Alegria


chmanié na saída da Spartacus

Dia seguinte aproveitamos o dia inteiro de escalada. Depois de uma boa volta nos outros pontões para visualizar algumas vias, fomos novamente ao Pontão Menor e passamos o dia todo por lá. Fizemos todas as vias principais de lá (Esquina da Alegria, Rubycon, Alta tensão, Teto da Guerra e Paz e uma chaminé sem nome)... todas na casa do 4o ao 6o grau, com excelentes colocações em móvel e uma mais divertida que a outra.

namorando a fenda da Sublime Inconsequência

Guilherme na Esquina da Alegria


Flavinha subindo limpando o diedro

fissura Rubycon


Flavinha fazendo a segurança do Guilherme... e o teto da Guerra e Paz em
segundo plano


Flavinha na Alta tensão

eu guiando a alta tensão (depois de salvar a primeira proteção e diminuir consideravelmente a tensão)

chaminé sem nome



No final do dia, o tempo fechou enquanto eu e o Guilherme finalizávamos o Teto da Guerra e Paz. De repente uma ventania sem fim e a chuva caiu forte enquanto montávamos o rapel. A Flávia já havia descido para o camping e levou o meu anorak por acidente (Aff!). Fizemos o rapel correndo e tentamos proteger os equipamentos da chuva, mas não teve muito jeito. Descemos com as roupas e mochilas bem molhadas. Tirando alguns raios que caíram lá por perto e fizeram a espinha gelar por alguns segundos, correu tudo bem.

Dia seguinte o tempo amanheceu bem nublado, prometendo que o tempo ruim do dia anterior ia continuar. Ficamos fazendo hora até na hora do almoço, esperando os equipamentos secarem e torcendo para alguma melhora que nos permitisse procurar alguma coisa pra escalar.



Lá pelas 14:00 a chuva parou e eu e o Guilherme corremos e arrumamos as mochilas para tentarmos ir conhecer o Setor Ave Maria. A promessa era que lá as vias eram muito negativas e a chuva não conseguiria molhar a parede. Com 5 minutos de caminhada a chuva voltou mas mesmo assim decidimos ir até o setor ver do que se tratava.

Após algumas erradas na trilha, chegamos no setor. Um teto de outro mundo! Uns 10 metros de parede muito inclinada, com buracos gigantes e rocha muito sólida! Nunca vi nada parecido. As vias lindas seguindo linhas naturais de agarras gigantes até o final do teto. Realmente muito impressionante.

Meio intimidados com a inclinação da parede, ficamos ali assistindo outro casal escalando e então as mãos começaram a coçar e resolvi entrar em um 7c que estava equipado, chamado Purgatório. Linda sequência de buracas e agarras de todos os tamanhos e formatos. Fui subindo de costura em costura fazendo cada movimento e me deliciando com a movimentação. Enquanto isso, a chuva caía mas sem nenhuma gota na área das vias. O Guilherme entrou logo em seguida e quase mandou na primeira.

Eu fiz ainda outra via de segundo, um 7b chamado Cheia de Graça, para desmontar, e o Guilherme quis dar outro pega na Purgatório e, por pouco, não encadenou.

escalador de Conselheiro Lafaiete na Ave Maria


Com os braços cansados e os dedos todos ralados, não teve jeito de fazermos mais nada. Juntamos nossas coisas e voltamos para o camping com a sensação de termos ganhado o dia, depois de tanta chuva.

Á noite tivemos ainda uma palestra da Ro Gelly, escaladora muito experiente do Rio de Janeiro que falou sobre Gestão de Risco e Prevenção de Acidentes na Escalada. Ela tem um grupo no Facebook (https://www.facebook.com/groups/GerenciamentoEscalada/?fref=ts) para discussão do assunto e nos presenteou com uma excelente apresentação do tema e discussão de idéias.




Dia seguinte, já com os braços doloridos e as mãos inchadas, não tinha jeito de tentarmos mais escalar. Juntamos as coisas e pegamos a estrada de volta.

Que carnaval delicioso! Pouca bagunça, muita escalada, visuais incríveis e muito aprendizado. A escalada em móvel é realmente um jogo bem diferente e exige muito da capacidade mental do escalador. Com certeza voltaremos com muita frequência! A Serra do Lenheiro definitivamente entrou para a nossa lista dos melhores lugares para escalar.

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