sexta-feira, 21 de junho de 2013

Frangos na Australia - Parte 1 = Arapiles

Por Rafael Gribel

Chegamos em Melbourne 5hs da manha, e como a empresa da caravan soh abria as 10hs (!), ficamos morrendo de frio, enrolando no aeroporto. O clima lá fora não era nada promissor: céu cinza e uma fina garoa. Lá pras 9 da manhã resolvemos nos mexer e ir buscar a Caravan.



Chegamos na locadora e já fizemos todos os trâmites para o aluguel. Essa seria nossa casa pelas próximas 2 semanas e meia.

As caravans (ou campervans) são muito comuns na Austrália e Nova Zelândia. Existem várias empresas que alugam os mais diversos tipos de caravans, de alto luxo à baixo custo, de gigantes a pequenas vans. Como nosso orçamento era limitado, pegamos uma van para 4 pessoas, com duas camas de casal, um fogão de 2 bocas, uma geladeira, uma pia e um microondas.

Saímos de Melbourne e já pegamos a estrada rumo ao primeiro destino da nossa viagem: Arapiles.



Foram aproximadamente 330km até o Mount Arapiles National Park. O Jorge dirigiu a maior parte da estrada, e eu tive a oportunidade de dirigir pela primeira vez na mão inglesa. E que parada estranha! Mas deu tudo certo no final, tirando algumas comidas de faixa.

Chegamos quase no final da tarde, com o sol se pondo, e já paramos a caravan próximo à área de camping. Aquela noite dormiríamos por ali mesmo. Andando pela área de camping, uma primeira coisa já chamou a atenção (pelo menos de nós brasileiros): não há tomadores de conta ou qualquer pessoa responsável. No meio do camping há uma caixinha com alguns envelopes. Você preenche o envelope, coloca o dinheiro correspondente ao número de noites que irá ficar, e coloca na caixa. Simples! E haja honestidade e confiança.

Á noite ainda fizemos um delicioso jantar (o primeiro na caravan), e fomos dormir a primeira noite "enlatados". Os bancos da van se transformavam em uma confortável cama de casal na parte de baixo, e a outra cama ficava em uma extensão na parte de cima, extremamente apertada e claustrofóbica.

pagando o camping

primeiro jantar na chicken caravan


jorge brincando com a máquina nova

faltou só inverter a imagem

cama de baixo (super confortável)

cama claustrofóbica de cima

Dia seguinte acordamos e toda a exuberância do lugar apareceu. O dia estava lindo, céu azul e vento fresquinho, extremamente convidativo para a escalada. Fomos direto ao setor Organ Pipes, mais próximo ao camping e com muitas vias móveis e fáceis, perfeito para nos aclimatarmos à rocha e ao estilo das vias.

Eu e a Flavinha entramos de cara na D Minor, grau 14 (4o grau brasileiro), um pilar de pedra lindíssimo de uns 30 metros de altura, todo em móvel. Escalada muito prazerosa e colocações excelentes! O Jorge e a Pat entraram em uma bonita aresta logo ao lado, chamada Picolo, grau 11, também toda em móvel. Depois trocamos as vias.


vista do camping de um dos setores



Jorge atrapalhando a foto com a gigante cabeça, digo, procurando
as vias no guia

organ pipes


d minor - primeira escalada da viagem

jorge guiando a Piccolo

cume da d minor


top da Piccolo

rapelando da d minor



Final do primeiro dia! Que delícia de rocha, movimentação, tudo! Arapiles é considerado como um dos melhores e mais completos picos de escalada do mundo. Com mais de 2000 vias de todos os tipos e estilos. Que privilégio termos a oportunidade de conhecer essa montanha magnífica!

No final da tarde, decidimos ir para o Caravan Park para podermos tomar um banho e ficarmos um pouco mais confortáveis.

Parênteses aqui: a Austrália é recheada desses Caravan Parks. São áreas específicas para se hospedar com as caravans, com pontos de recarregamento de bateria, abastecimento de água, banheiros e cozinha comunitária. Extremamente limpos e bem cuidados, e com um preço muito convidativo (em torno de 15 ou 20 dólares por pessoa). Em quase todos os Caravan Parks que ficamos vimos várias famílias hospedadas. Isso mostra toda a popularidade das caravans e dessa forma de viajar e se hospedar.

Voltando à história, mais um jantar regado a um bom vinho, e chocolaína de sobremesa, e fomos dormir novamente.

caravan park e o cucaburra vigiando a gente


pôr-do-sol mais ou menos visto do caravana park

famoso macarrão da Flavinha


2o dia de escalada, acordamos bem cedo (lá pra 8 da manhã.. hehe) e começamos a arrumar as coisas. Bem diferente do dia anterior, o céu estava meio cinza e o frio de matar. Tudo congelado no chão do Caravan Park. Mais um parêntesis importante: nessa época do ano o dia na Austrália é mais curto, amanhece por volta das 8 e o sol se põe por volta das 5. Junta-se a isso um frio de 5 graus, aí você imagina o ânimo de levantar cedo pra escalar.

nascer do sol no lago em frente ao caravan park





jorge tentando imitar o fofão

Enfim, eu e o Jorge estávamos namorando algumas vias longas em móvel para entrarmos. Afinal de contas estávamos no paraíso das escaladas em móvel, e não podíamos deixar a oportunidade passar. Fomos então para um outro setor bem à direita da montanha, onde há vias de aproximadamente 120 metros.


vista panorâmica da montanha inteira


chegando no setor de vias longas


Avistamos uma fenda linda chamada Watchtower Crack, mas o grau 17 nos entimidou. Logo ao lado havia uma via de grau 9, e 4 estrelas de acordo com o guia, chamada Arachnus, 4 cordadas toda em móvel. Bora lá então! Grau 9, 4 estrelas? Não tinha como recusar.

Entrei guiando e fui progredindo na parede quase vertical lotada de agarras e boas fendas para proteção. Escalada divertidíssima! Acabei esticando a 2a cordada para não parar em uma base meio exposta e acabei guiando trechos bem esticados de 4o grau bem vertical. Que delícia!



P2 da Arachnus


Enquanto isso, o Jorge e a Pat resolveram entrar em uma via ao lado chamada Brolga, grau 16. E que perrengue! Só ouvia o Jorge xingando a falta de agarras, as proteções e tudo mais... hehe...

jorge namorando a Watchtower crack



As duas vias davam num cume falso, no mesmo lugar, onde existe uma linha de rapéis com proteções fixas. Juntamos nós 4 lá, e fizemos o rapel juntos. Pequeno parêntesis: nesse momento o sol já começava a se pôr, e havia nessa linha de rapel uma excursão escolar, com uma galera rapelando pela primeira vez. Com muita educação, os instrutores viram o nosso desespero esperando o pessoal que demorava 15 minutos pra rapelar 30m, e nos deixou passar na frente. Chegamos na base quase anoitecendo e num frio danado.

esperando pra começarmos os rapéis

Voltamos para o caravan park, e essa noite resolvemos ir até a cidade, Natimuk, comer alguma coisa diferente e tomar uma cerveja. Encontramos um restaurante simpático que ainda tinha uma mesa de sinuca. Diversão garantida e um belo jantar!




teto da Kachoong...
infelizmente não foi dessa vez
3o e último dia de escalada, ficamos garimpando o guia de escalada em busca de alguma linha legal. Eu queria entrar na famigerada Kachoong, o 7a (grau 21 australiano) mais fotogênico do mundo (de acordo com o guia de escalada).

Mas a trilha para chegar na base da via estava meio complexa, e achamos então algumas vias de duas enfiadas, aparentemente fáceis, lá perto da Kachoong. A idéia seria escalar essas vias e se desse tempo, iríamos tentar o 7a. Para acessar essas vias, precisamos subir de carro até o cume e achar uma trilha que saía à esquerda para descermos até a base, ou fazer dois rapéis pela própria linha da via. Quando chegamos na beirada da pedra, um vento alucinante estava soprando. Além disso, o céu cinza não estava nada animador. E pra piorar demoramos muito para achar os grampos de rapel, e ficavam num lugar muito exposto. Resutaldo: bora achar outro setor mais protegido do vento pra escalar.

visual do cume

acho que o rapel tinha que começar ali da ponta




Achamos no guia um setor anexo à montanha, com vias mais baixas, chamado de Declaration Crag. De acordo com o guia, havia algumas vias de grau até 18, 4 estrelas. Paramos o carro pertinho da pedra, e fomos explorar o simpático setor. Para esquentar, escalamos duas vias mais fáceis, em móvel, uma grau 10 e uma grau 15.

visual da entrada do Declaration Crag


Logo à direita, havia uma via grau 20 que prometia ser a mais bonita e fotogênica do lugar. Uma fenda vertical muito bonita que terminava em um diedro meio tetinho. Lá fui eu apanhar e passar perrengue. Guiei bem o primeiro trecho da fenda, e quando cheguei no diedro/tetinho travei. Não conseguia ir pra cima nem pra baixo, as possibilidades de proteção eram ruins e faltou a coragem pra tentar um lance mais pra cima pra proteger. Fiquei alguns minutos naquela "punheta" no bom sentido da palavra) tentando fazer o lance pra cima e pra baixo e proteger. Até que começou a chuviscar, aí o psicológico foi pras cucuias. Tomei uma vaca generosa em um nut entalado e resolvi descer. Pra desmontar, subimos andando até o topo da via por trás, armei o rapel e desci retirando as proteções. Que via linda! Infelizmente vai ter que ficar pra próxima!

a via segue essa fenda direto pra cima

travado no tetinho



É isso! Final da primeira parte da viagem. 3 dias de escalada em Arapiles inauguraram com honras a viagem dos frangos pelo leste australiano. Próxima parada: Grampians!

tempo lindo no último dia... visual privilegiado
Ainda deu tempo de juntar os vídeos e fazer um filminho da primeira parte da Chicken Caravan Rock Climbing Trip Australia 2014

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