quarta-feira, 27 de março de 2013

Tempin ruimzin no Itatiaia

Feriado em Contagem na sexta ( aniversário da cidade), resolvi fazer a tradicional ida anual ao Itatiaia e aproveitar que o parque provavelmente estaria vazio por ser um fim de semana comum. Combinei com o Guilherme da Das Pedras, e reservamos o abrigo Rebouças com bastante antecedência. De última hora, o Dagó (vulgo José Roberto) do CEM resolveu ir e juntamos os três no Kazinho rumo à Itatiaia.

Dessa vez o objetivo principal era a via Chaminé Idalício no Prateleiras. Uma chaminé que sai do chão e vai até o cume, de aproximadamente 60 metros com um trechinho inicial em artificial fixo. A previsão do tempo não era das melhores mas, como ficaríamos no abrigo dessa vez, resolvemos arriscar.

Saímos de BH na quinta-feira por volta das 8 e meia e já pegamos um congestionamento monstro no Anel. Saímos quebrando pro meio do Barreiro pra desviar do transito e com um pouco de atraso conseguimos pegar a Fernão Dias rumo ao sul de minas. Chegamos na portaria do parque às 3:40 da madruga, e um simpático guarda-parque nos lembrou que somente poderíamos entrar a partir das 7:00. Tudo bem então. Embolamos nós 3 no Ka e tentamos alguma coisa parecida com dormir, enlatados, até às 7:00.


Com tempo bom, descemos todos felizes em direção ao abrigo Rebouças e quando chegamos no abrigo, um pessoal de SJDR ainda não tinha liberado. Deixamos nossas mochilas na varadinha do abrigo e debaixo de um sol muito agradável pegamos a trilha para o Prateleiras. Aí o tempo ruim começou a dar as caras. A neblina subiu bonito e quando chegamos ao Prateleiras a visibilidade não era das melhores. Demos uma apalpada na pedra e parecia que estava bem seca, então resolvemos tocar pra cima na Chaminé Idalício.

chegada no Prateleiras com muita neblina


Eu sonhava com essa via há uns 3 anos desde que vi um pessoal de Pouso Alegre fazendo ela então me prontifiquei de imediato para guiá-la. A primeira enfiada inicia em um artificial fixo levemente negativo bem tranquilo e termina na entrada da chaminé onde há uma pedra entalada. O lance mais difícil é a subida dessa chaminé e o domínio dessa pedra pelo lado de fora, com a última proteção há uns bons 3 ou 4 metros abaixo. Entalei um camalot na pedra entalada e criei coragem pra fazer o lance e dominar a pedra. Ali é a P1. De segundos vieram o Guilherme e depois o Dagó.

eu guiando o final do trecho de artificial

Guilherme na chaminé apertada depois do artificial

zoom do perrengue

Aí na P1 começamos a ter noção do tamanho da encrenca. A parte de dentro da chaminé estava bem escorregadia, cheia de lodo, e o tempo continuava a piorar com um vento frio de tremer os dentes. Já tava na m... mesmo, resolvi continuar guiando o trecho molhado. Depois de alguns camalots em pedras entaladas no fundo da chaminé, consegui utilizar as técnicas do sapinho e da minhoca pra subir uns 10 metros e chegar na próxima proteção fixa, onde fizemos a P2.

(não há fotos de durante a escalada porque os jumentos aqui largaram as máquinas nas mochilas na base da via)

Após a P2, vinha o trecho mais molhado da via. Uma chaminé um pouco mais fácil que a anterior, com bons pés de oposição, mas que escorria água pelas paredes e com nenhuma possibilidade de proteção móvel. Nesse momento, criei umas 2 bolas a mais e resolvi tentar subir a chaminé encharcada. Preguei o pé na parede de um lado e as costas no outro e fui subindo devagar uns 5 metros até chegar em uma laca entalada onde consegui colocar 2 camalots. UFA! daí pra cima foi mais um trechinho de chaminé, e por último um trecho de escalada em face com boas agarras, que teria sido feita em face se não fosse o lodo abundante. Novamente preguei os pés de um lado e as costas do outro e, na melhor técnica da minhoca do dia, cheguei ao final da via. O Guilherme e o Dagó vieram logo em seguida e foi só o tempo de rabiscarmos alguma coisa no livro de cume e começar o rapel no meio da névoa que dominava a paisagem.

rapel do Prateleiras... vista da primeira enfiada
da Chaminé Idaliício...

Durante o rapel até apareceram resquícios de tempo aberto onde pudemos ver um pouco mais do lindíssimo vale que fica à frente do Prateleiras, mas nada que nos animasse demais. Descemos os 3 e por volta das 19:30, já escuro, chegamos de volta ao abrigo.

A noite foi de bons jantares. Por volta das 11 e meia tivemos nosso sono interrompido por 6 carinhas de Itamonte que iam fazer a travessia Ruy Braga e entraram falando bem alto e nos incomodando. Dia seguinte eles continuaram com a barulheira e seguiram para a travessia. Só mais tarde fomos descobrir que eles não poderiam ter entrado no abrigo e os guarda-parques estavam atrás deles. Sempre tem uns desses né.

beliches no abrigo

área comum do abrigo com duas mesinhas e um fogão à gás

Sábado acordamos cedo com a barulheira alheia e, animados pelo tempo bonito que se apresentava, partimos rápido para o Agulhas Negras para o segundo objetivo principal da viagem: a via Normal do Agulhas.

represa e abrigo Rebouças ao fundo


Começamos bem a caminhada e quanto mais avançávamos mais o tempo fechava. Quando chegamos no ponto de bifurcação entre a Normal e a via Pontão, a chuva começou a cair mais forte. Achamos uma pedra negativa e nos abrigamos nela esperando a chuva passar. Nesse momento chegaram um grupo de 7 pessoas (5 homens e 2 mulheres), a maioria de camiseta de algodão cavada, bermuda e alguns de sapatênis, completamente encharcados da chuva. Depois de esperar algum tempo pra ver se a chuva parava, resolvemos descer, enquanto o grupo decidia se continuaria ou não.

Para não perder o dia, sugeri fazermos a caminhada para o cume da Pedra do Altar. Trilha tranquila e pouco íngreme que nos levou em menos de uma hora ao topo. Que vista linda do lugar!!! Dá pra se ver o parque quase todo desse ponto. Agulhas Negras de um lado, Prateleiras e Couto do outro!!! Valeu a caminhada e no final não perdemos o dia.

sapinho flamenguista na trilha, símbolo do Itatiaia

cume da Pedra do Altar

Asa de Hermes à esquerda e Agulhas Negras vistos da Pedra do Altar

No final do dia, o tempo abriu completamente de novo, nos presenteando com essa bela imagem da lua nascendo logo acima do Agulhas Negras e inclusive nos animando a tomar um banho no riozinho represado próximo ao abrigo.


Domingo, último dia, acordamos um pouco mais tarde, enrolamos mais que o normal no café da manhã e saímos do abrigo em direção ao estacionamento por volta das 9:30. Pelo horário desistimos de escalar alguma coisa, e então decidimos fazer a caminhada para o cume do Couto. De mochilas leves, e com a trilha bem marcada e tranquila, em pouco mais de uma hora estávamos no cume do Couto. Novamente, apesar do tempo fechado e nublado, belíssimo visual de todo o vale do parque, com Pedra do Altar e Agulhas Negras ao fundo!


cume do Couto, com muita neblina

Na trilha de volta, já quase chegando no carro, ainda pegamos uma bela chuva que serviu pra esfriar o corpo e nos despedir do Itatiaia.

Mais um feriado precioso nesse lugar que na minha opinião é único no Brasil, tanto pelas formações rochosas, quanto pela altitude, quanto pelo clima, e principalmente pelos visuais. Dessa vez tomamos bastante água na cabeça, mas sempre se aprende muito na montanha, principalmente quando enfrentamos adversidades. Valeu Guilherme e Dagó pela parceria!



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