Teríamos quase uma semana por lá, então resolvemos escolher uma caminhada de uns 3 dias para esquentar as pernas e nos aclimatar com o lugar, para então tentar a escalada do vulcão.
Pouakai Circuit
Escolhemos a caminhada mais famosa de lá, chamada de Pouakai Circuit que começa nas encostas do Taranaki e passa por um conjunto montanhos anexo à oeste do vulcão, chamado de Pouakai Range. Mantendo o esquema 5 estrelas, a caminhada de 3 dias conta com abrigos para pernoite e trilhas bem sinalizadas.
Arrumamos um transporte do Hostel até a entrada do parque, e chegamos lá bem cedo. No caminho vimos que a situação climática não era nada animadora. São 40 minutos de New Plymouth até o parque, e não conseguimos ver absolutamente nada. A névoa e a garoa tomavam conta de tudo. Enfim, melhor estar na montanha que preso dentro do quarto do hostel, então resolvemos arriscar. A previsão do tempo dizia que iria melhorar, mas não estávamos nada convencidos disso.
O primeiro dia de caminhada começa com algumas boas subidas até atingirmos as encostas na base do vulcão. Trilha bem larga e sinalizada. Andamos algumas horas, e o clima começou a dar uma trégua.
tempo muito fechado no receptivo do parque |
Lá pras 10:00 da manhã, o sol começou a aparecer e pudemos então ter uma noção da grandiosidade do lugar. O vulcão é muito grande, e as suas encostas não perdem pra nenhuma cadeia montanhosa que conhecemos aqui no Brasil, o que garante um visual muito bonito.
Após umas 5 horas de caminhada, avistamos o abrigo, sob um céu de brigadeiro, e uma vista maravilhosa do vulcão.
e começa a abrir o tempo |
paradinha para o lanche |
visual da trilah |
cume encoberto por nuvens lenticulares |
visual da Pouakai Range (cadeia de montanhas anexa ao Taranaki e que dá nome à travessia) |
enfim o cume! |
chegando no abrigo do 1o dia |
a manutenção dos banheiros químicos é feita por helicópteros... igualzinho ao brasil... (aaaahhhh taaaahhh) |
O 2o dia de caminhada seria o mais curto, mas nem por isso menos bonito. Descemos a encosta do vulcão e passamos um bonito charco, conhecido como Ahukawakawa Swamp, que dá acesso à Pouakai Range. O tempo que começou o dia claro e bonito, começou a mostras novamente suas caras, e neblina e ventos fortes tomaram conta do lugar. Ao iniciarmos a subida da Pouakai Range, já não conseguíamos enxergar nada mais do vulcão. Daí pra frente, muito vento, muito frio
o taranaki está aí ao fundo... pode acreditar... |
floresta de musgo na subida |
sempre que há vegetação ou solo sensível, há algum tipo de trilha suspensa ou proteção de madeira para diminuir a erosão |
chegada no abrigo do 2o dia sob chuva e vento |
Chegamos no abrigo, vazio novamente, e arrumamos nossas coisas. Já haviam nos avisado que o terceiro dia do circuito é crítico se houver chuva, Existe um rio que precisa ser cruzado, e dependendo do volume de água não seria possível. Além disso, no início do 3o dia de caminhada se encontrava teoricamente a vista mais bonita de toda a caminhada: a vista do Taranaki refletida nos Pouakai Tarns (pequenos lagos formados na parte alta da trilha).
o que esperávamos ver |
o que vimos |
início do 3o dia |
o tempo ruim continuava |
New Plymouth
Chegamos no hostel moídos e desanimados pelo tempo ruim. A previsão dizia que o tempo ia melhorar dali dois dias, e começamos a duvidar das reais possibilidades de tentarmos a escalada do vulcão. Além disso, depois de 2 meses escalando e caminhando, as pernas e joelhos já davam os sinais de fadiga.
Resolvemos então tirar um dia de folga pra relaxar e decidirmos o que fazer. Alugamos as bicicletas mais baratas que encontramos e fomos andar na famosa Coastal Walkway, eleita uma das melhores ciclovias do país, com destaque para a Te Rewa Rewa bridge, uma ponte construída exclusivamente para pedestres e bicicletas com formato futurístico. Foi construído de forma que em dias claros fosse possível enxergar o Taranaki através dos seus arcos.
vista original... infelizmente estava nublado o dia que fomos andar de bicicleta e não conseguimos ter essa visão |
A ciclovia é realmente muito bonita, e um passeio muito legal. Andamos por algumas horas, e passamos pelos principais pontos turísticos da rota.
bicicleta que consegui alugar com o dinheiro que tinhamos... hehe... |
Chegamos de volta no hostel pouco depois do almoço, e agora vinha a dúvida cruel: tentar ou não tentar a escalada do Taranaki no dia seguinte? O cansaço e o tempo ruim pesavam contra, e a possibilidade de nunca mais voltarmos a esse lugar pesava a favor.
Juntei um bocado de força de vontade, e convenci a Flavinha a tentarmos. Afinal de contas, a previsão do tempo indicava tempo limpo e pouquíssimo vento. Não podíamos perder essa oportunidade. Havia ainda um problema: para escalar o Taranaki precisaríamos chegar no parque muito cedo, muito antes de abrirem as portas. Como conseguir um transporte até lá nessa hora do dia? www.rentadent.co.nz - low cost car rental services. Achei uma agência em New Plymouuth, liguei pra lá e consegui um compacto Toyota por 20 dólares a diária, e ainda tive que caminhar 30 minutos até a agência. Acabaram-se então as desculpas para não tentarmos a escalada. Já que estávamos já do outro lado do mundo, decidimos pelo menos fazer uma tentativa. Independente do quão longe chegássemos, já estaríamos no lucro.
Taranaki
Acordamos bem cedo, por volta das 5:30, tomamos um café da manhã reforçado e pegamos o carro em direção à entrada do parque. Como já era de se esperar a entrada estava fechada ainda, então deixamos o carro no estacionamento e seguimos pela trilha. A previsão do tempo estava certa, e pegamos um dia muito bonito de tempo limpo e temperatura agradável.
O Taranaki é considerado o vulcão mais frequentado da Nova Zelândia! No verão, quando não tem neve, para se chegar ao cume basta um bom condicionamento físico e muita disposição para vencer a longa e íngreme subida, vencendo pouco mais de 1500m a partir da entrada do Egmont National Park. Já no inverno a coisa complica um pouco mais pois a montanha se cobre com alguns bons centímetros de neve. A todo momento há placas indicando a necessidade de se estar portando os equipamentos necessários, e de se ter a experiência necessária. Na própria entrada do parque a recepcionista faz um belo terrorismo com histórias de acidentes e resgates. Mas pela experiência que eu e a Flavinha tínhamos no montanhismo em geral, e depois da boa dose de neve no Tongariro, achei que daríamos conta com segurança.
A primeira parte da subida é por uma estradinha que dá acesso a um abrigo de montanha do Taranaki Alpine Club, chamado Tahurangi Lodge. O abrigo é administrado pelo clube, e muito utilizado para as atividades recorrentes dos associados. A subida até o abrigo dura mais ou menos 2 horas e meia. Até tentamos entrar em contato para tentar utilizar o abrigo para pernoitar e ganhar tempo para a tentativa de cume, mas o processo do aluguel não é muito simples e achamos melhor ir direto mesmo.
Subimos em um ritmo muito bom, e antes das 10 da manhã estávamos no abrigo tomando uma água e fazendo um pequeno lanche. Daqui pra cima começa a parte complicada, o tempo todo sobre neve e gelo e o desnível a ser vencido até o cume é de pouco mais de 1000 metros.
na estrada a caminho do parque, finalmente vimos o Taranaki de longe |
receptivo turístico do Egmont National Park |
estradinha no início da caminhada |
chegando na linha onde começa a neve... e o mar de nuvens ao fundo... |
terminando a primeira parte da subida no Tahurangi Lodge... |
Nessa época do ano, o gelo fica bem duro, então fomos com bastante cuidado procurando o melhor caminho e tentando seguir as marcações que indicam o caminho da subida.
Essa parte da montanha é linda! Longas rampas de neve branquinha, com o visual do cume o tempo todo. Abaixo de nós, as nuvens alternavam, hora mostrando a vista toda da cidade e hora um mar incrível de nuvens.
uma das placas avisando da dificuldade técnica e dos perigos climáticos |
o tempo sempre alternava entre nuvens e céu azul... visual magnífico! |
rampas intermináveis de neve e gelo |
Subimos por mais umas 4 horas na neve. Calculei que estivéssemos a mais ou menos 300 metros do cume e chegamos na última parte da subida, conhecida por ser um terreno pedregoso e um pouco mais irregular que as longas rampas que subimos. Já eram quase 2 da tarde, e comecei a ficar preocupado com o horário de volta. Além disso, as pernas começavam a dar os sinais de cansaço em mim e principalmente na Flavinha. Somado a tudo, começamos a subir alguns trechos de neve mais íngremes que requisitavam o uso da piqueta para progredir lentamente. Hora da verdade! Somando todos os fatores (horário, exposição, cansaço, experiência, etc) decidimos que seria melhor descermos naquele ponto. Estávamos sozinhos na montanha, e qualquer incidente transformaria um dia lindo de escalada em um pequeno pesadelo. Começamos então a descer. Infelizmente não deu cume dessa vez.
A descida foi bem tranquila, e aproveitamos para praticar as técnicas de esqui bunda na neve... hehe...
última olhada para o cume antes de iniciar a descida... |
zigue zague da subida |
skibunda! |
pegando a estradinha na descida |
Dia fantástico em um lugar deslumbrante! Essa foi a última aventura da viagem, e não poderíamos ter escolhido lugar melhor para fechar a viagem com chave de ouro.
Hora de voltar pra casa, e encarar a vida real. 70 dias de living the dream! Voltamos pra casa com a alma fortalecida e um monte de novas experiências na bagagem... e muitas histórias pra contar...
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